quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

You are smart... You are kind....

... you are important!





A valorização da pessoa e do seu espaço no mundo. Raça, credo, classe social, peso na balança, padrões de beleza, critérios sociais que alienam o ser do seu lugar na humanidade. Um lugar que, se não é igual - onde está o respeito às diferenças? -, é, sim, igualitário. A humanidade como um todo, e não partes que prevalecem sobre as outras. Sentindo-me assim eu desliguei a TV ontem, depois de assistir a Histórias Cruzadas.

The Help (Histórias Cruzadas. Tate Taylor, US, 2011), filme que concorre ao Oscar este ano em várias categorias, tem três de suas atrizes indicadas. Poderia ser todas. Como seus personagens, a atuação de todas as mulheres fantásticas que figuram nesse filme, tem seu lugar garantido. Mas aqui eu me adiantei, rs. 

The Help - o título em português faz sentido, but... - apresenta uma cidade do Mississipi nos anos 50, em plena explosão dos conflitos raciais. Uma ferida de muitos, no entanto, a discriminação racial toca fundo na história dos Estados Unidos. Livros, filmes, músicas são narrativas que trazem essa ferida e diferentes olhares sobre ela. Com algumas, eu tenho um imenso pé atrás. Já outras me mostram que, se a forma não é exatamente inovadora, há, sim, maneiras diferentes de olhar para essa história tão dolorida e injusta. 


Aqui, são as mulheres que trazem as relações numa cidade dividida por duas cores e muitas realidades. Mas, em vez de trazer puramente o antagonismo, o filme entra no que disse acima e que me conquistou na história: as pessoas e sua luta desesperada por um lugar no mundo. Não trata do antagonismo racial pelo ponto de vida político - toca nele em vários momentos, uma forma de dizer que eles existiram, não são ignorados, mas não são o foco aqui -, mas no das relações humanas diárias. Daí o título The Help, os ajudantes, os empregados caseiros negros que sustentaram o modo de vida do sul dos Estados Unidos numa relação cruel, injusta, injustificável. E muito, muito triste.


Assim, as mulheres que transitam pela trama do filme não são unilaterais, vilãs ou mocinhas sem facetas, instrumentos de defesa de uma tese. Elas são pessoas, crianças mesmo (como ressaltado pela narradora no início, crianças tendo crianças), que tentam se tornar adultos num mundo que não compreendem. Que tentam se fazer prevalecer  e respeitar pela força e pelo abuso que sofreram também. Digo isso sem justificar de forma alguma a crueldade que cometem... mas o filme conseguiu se mostrar para mim por isto: as pessoas são tão palpáveis, a força de suas dúvidas é tão intensa, que o quadro se mostra mais complexo e respeitoso à história que conta. Senti-me assim principalmente na última cena, protagonizada por três mulheres e uma criança, em que todas se colocam ali, não apenas representam um papel - de vilã, de coitada, de burra, enfim. Não defendem uma tese. Elas são. E essa honestidade foi o que me deixou feliz de haver superado minha preguiça inicial - sério, mais um filme sobre os anos 50? - e chegar a The Help.


Ok, cheguei assim, assim. Contrariando as minhas crenças mais profundas, rs, assisti ao filme online, num site indicado pelo meu sobrinho. Eu raramente vejo filmes na TV ou DVD - para dar uma ideia melhor do quanto é raro, em 2010 eu vi 95 filmes no cinema e 4 em casa. Mas, ontem, eu queria realmente muito ver o filme e não consegui encontrar um horário que coubesse no meu dia. Assim, descobri, bastante tardiamente, como é bom colocar um filme na TV, me enrolar num cobertor e assistir a um filme no conforto escuro da minha sala.  Sem culpa de haver assistido um filme concorrente do Oscar na TV...rsrs.


De volta ao início, as interpretações: elas enchem os 146 minutos de projeção. Fortes, encantadoras e surpreendentes, elas são, para mim, um dos grandes destaques do filme. Octavia Spencer, Viola Davia e Emma Stone por si só já levariam o filme nas costas. Mas elas não brilham sozinhas, assim como não mostram apenas uma face. Bryce Dallas Howard traz uma Hilly intensa, uma criança que cresce sem saber que lugar conquistar no mundo, e acaba por escolher o mais acessível, para ela, caminho da dominação e crueldade. Ahna O'Reilly poderia passar despercebida, como sua personagem Elizabeth, se não fosse a cena final, em que ela se mostra mais complexa do que acreditávamos. Alison Janey eu adoro desde The West Wing, uma de minhas séries favoritas. Ela ´é uma mãe que me lembrou tantas que conheço, e traz em si as falhas e as forças dessas figuras inacreditáveis que são as mães. E, enfim, Jessica Chastain, com uma personagem maravilhosa de querida, para nos mostrar como a exclusão ocorre em diversas instâncias, e não apenas nas mais visíveis. Ela já havia chamado a minha atenção com a mãe que interpreta em The Tree of Life, e aqui mostrou sua versatilidade em uma interpretação vibrante e não caricata. Difícil.


Senões sempre ocorrem... um dos meus, aqui, é justamente quanto à superficialidade de algumas tramas, como a do namorado, que, provavelmente, possuem um destaque maior no livro. Num filme que traz a força em cada take, o superficial fica bastante evidente. 


O Sul que se apresenta nos cinemas marca principalmente a força das mulheres e de suas relações. Elas sustentariam a sociedade - e aí, claro, os homens meio que desaparecem... Em The Help não acontece outra coisa, mas ele consegue ser diferente. Talvez pela honestidade e generosidade que tem com essas mulheres, que, enquanto extremamente guerreiras e sobreviventes em um mundo absurdamente injusto, conseguem se mostrar humanas e acessíveis. Big smile for that : )




PS: O olhar sobre a vida das pessoas, apresentado na voz de Viola Davis, é cuidadoso e acurado. Diz muito do que vivemos e vemos hoje... e traz, em si, não o julgamento, mas a percepção de como as vidas se desenrolam dentro da privacidade devassada do nosso lar.

PS2: Eu ia falar do cabelo da personagem de Emma Stone... mas a frase título deste post, dita, no filme, por Aibilleen todos os dias para a criança que cria como forma de dar a ela um pouco de auto estima, diante da rejeição que sofre da mãe principalmente pela sua aparência, me calaram definitivamente!





4 comentários:

  1. Respostas
    1. Paolinha! Fico tão feliz... sempre receio adentrar na parte política, né? Por isso fico preferencialmente na vida como ela é, rsrsrs. Bom te ver aqui!

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  2. Ahhh! Claro que você tinha que ver o filme, pois só assim poderíamos ler suas sensíveis considerações a respeito dele.

    Ler o Viagens é sempre um segundo prazer de assistir os filmes!

    E, quanto ao cabelo... :-)

    Beijinho!!!

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    1. Sis, você me emociona sempre! Para mim escrever é um desdobramento feliz do filme também, principalmente quando gera uma conversa boa : ) Beijo graaaaaaaande!!!!

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