domingo, 8 de abril de 2012

Still the shades...


And to know you is hard; we wonder...
To know you all wrong; we warn.



Parece que o universo resolve fazer alguns intensivos comigo de vez em quando. Intensivos temáticos, that is. Bom, se eu pensar na astrologia e no que são os trânsitos astrológicos - o movimento dos planetas, do Sol e da Lua em relação ao nosso mapa natal -, é isso mesmo. Temas existenciais que nos cutucam e pedem atenção.


Nestas duas últimas semanas, mais especificamente a que passou, foram as sombras para mim. Posso dizer que foi um presente : )

Depois que consegui largar as sombras de Grey - Fifty Shades of Gray, Darker e Freed -, cheguei ao cinema finalmente. E lá, o que encontrei? Outras shades, maravilhosamente projetadas em filmes incrivelmente bons.

Propositalmente, fechei o livro de E.L. James para chegar a Shame (Steve McQueen - não,não é o ator, mas um diretor inglês novo. Uk, 2011), um dos filmes que, desde o ano passado, tÊm chamado muito a atenção para Michael Fassbender, que vimos em Bartardos Inglórios, de Tarantino. 

Wells... não há como não chamar a atenção aqui, já que ele passa bem uns dez minutos andando nu em frente à câmera, na sua rotina matinal em diferentes dias. Brandon, já de início, diz McQueen, irá se mostrar completamente. Sem muitos preâmbulos e disfarces. O que descobri, durante  o filme, é que essa crueza pode vir acompanhada também de beleza. 

O filme é belo. Uma composição cuidadosa, com um ritmo digno do desnudamento da dor de uma pessoa. Os prelúdios de Bach que acompanham Brandon em seu caminho na cidade de Nova York me colocou muito próxima dele. A trilha do filme é toda linda, e agora a ouço, principalmente Bach - uma herança também de Fifty Shades. Queria trazer uma cena em que Brandon corre pela cidade ao som de Prelude & Fugue n. 10 in E Minor, mas não a encontrei. Belo. 

Aqui também como  em Fifty, as sombras aparecem muito explicitamente nas dificuldade de relacionar-se - e,, também again, a alegoria para a dor e a distância emocional é o sexo. No caso de Brandon, há um certo vício... que o mantém afastado dos envolvimentos emocionais e da dor de que procura se afastar desesperadamente.

A aproximação de sua irmã o tira desse isolamento seguro e autodestrutivo. Contradição? E do que mais se constitui a vida? Então.

Carey Mulligan, que havia visto uma semana antes, em Drive, está novamente perfeita aqui. Num personagem completamente diferente, revela o quão boa atriz é. Sua interpretação para New York, New York é de cortar o  coração.

Eu me conformo aqui com o fato de que, diga o que eu diga, não vou conseguir descrever a beleza desse filme e sua imensa dor. O que posso dizer é que ele veio como um diálogo muito importante com tudo o que senti com Fifty Shades. E aí penso oq ue seria de mim se tivesse conhecido Brandon sem falar com Christian e Ana primeiro. Impossível.


No caminho sombreado da dor e da alegria de sermos quem somos, cheguei, novamente de propósito, às sombras em Beleza Adormecida (Sleeping Beauty. Julia Leigh, Austrália, 2011). De início, pensei que fosse uma versão para o livro de Kawabata, A Casa das Belas Adormecidas, que li há uns dois anos. Nele, um senhor japonês se torna cliente de uma casa de prostituição em que as moças se encontram adormecidas. Ele pode deitar ao seu lado, tocá-la com certa restrição, sem jamais penetrá-la. Durante a noite, ao lado da bela adormecida, Eguchi reflete sobre sua vida e a morte que se torna eminente com a idade.

No filme, Lucy é a bela que dorme enquanto desconhecidos passam a noite ao seu lado, num quarto luxuoso, despejando na prostituta que dorme toda a dor, tristeza, frustração, raiva, agressividade com que o fim da vida e a impotência sexual representam. 

Ao final, um grupo de mulheres passou por mim em indignação  com o que tinham acabado de presenciar. Eu não sei, o que as pessoas esperam encontrar num panorama tão sofrido? A própria história da Bela Adormecida, a que o título remete, é de dor e perda... o príncipe a beija ao final? Ok, pode ser. Mas, enquanto o final não chega (true love will find you in the end...), a jornada é essa. E a de Lucy, especialmente, não é fácil. Mas é, sobretudo, fruto de suas escolhas - e não necessariamente a falta delas. Lucy não é indefesa. É forte, confusa, lutadora - na imensa inadequação que sente a uma vida conservadora. E merece respeito no desdobrar das suas  batalhas.

Depois de Beleza Adormecida, na sessão seguinte, assisti a Habemus Papam (Itália/França, 2011), o último filme de Nanni Moretti, o amado diretor da lambreta em Caro Diário. O que mais me prendeu na história do Papa que, eleito, tem uma crise de pânico e não consegue assumir o pontificado foi como ele leva a sério a sua escolha para a função. Ele não a tem como certa, e não se trata apenas da dúvida a respeito da suas capacidades, mas a consciência da dimensão gigantesca da sua tarefa. Essa percepção me levou a pensar como nunca, nunca, apesar de todo o sofrimento que pode acarretar,  é demais considerar a vida em toda a sua importância e seriedade. Não banalizar o que nos é oferecido, jamais. 

A ausência de banalização da vida esteve no documentário de Win Wenders sobre Pina Bausch (Pina. Alemanha/França/UK, 2011), coreógrafa alemã que compunha suas coreografias - composições insuportável e belamente fortes - a partir dos sentimentos e percepções dos seus bailarinos. Assim, nada mais justo que eles, bailarinos, contassem de Pina e sua dança. Eles o fazem em imagens desconexas com seus testemunhos in off. Afinal, como conjugar intenção e fala sobre Pina, que faleceu de câncer dois dias antes de iniciadas as filmagens do documentário?

Perplexidade, perda, saudade e respeito aparecem em suas expressões e memórias. E como dizer que o filme é só belo? Eu sofri horrores. E saí com o coração repleto de encantamento.

No mesmo dia, em outra sessão dupla, escolhi A Dançarina e o Ladrão (El Baile de La Victoria. Fernando Trueba, Espanha, 2009) principalmente por Ricardo Darín, de quem gosto muito e com quem ainda estava encantada por Um Conto Chinês. Aqui não vou falar muito... a história eu achei bela, a transformação que Darín sofre em um momento da trama é linda de ver. Uma fábula encantada, eu, no entanto, não a achei encantadora. Num filme cheio de irregularidades e cafonices, a beleza acabou por se perder para mim.

No dia seguinte, cheguei a um filme que queria muito ver, mas tinha receios. Um Método Perigoso (A Dangerous Method. David Cronenberg, UK/Canadá/Alemanha/ Suíça, 2011) traz novamente o trio de A Jornada da Alma, filme de 2022 de Roberto Faenza: Sigmund Freud, Carl Jung e Sabina Spielrein. Famosos por sua importância na criação e concretização da psicanálise como método terapêutico, os dois filmes pretendem trazê-los em seu intenso relacionamento. Do filme de 2002 eu saí muito brava com o retrato de um Jung babaca e fraco. 

Nesse sentido, Cronenberg não me decepcionou - danandinho.  O que hoje lemos nos livros como a grande ruptura de duas mentes brilhantes e as origens da maior psicanalista que a Rússia já teve, ele expõe em relações fortes e delicadas, sofridas e intensas, imperfeitas e grandiosas. Quando Freud, diante da percepção do que significaria sua divergência com Jung, perde literalmente o equilíbrio, meu coração afundou no peito. Quando Jung não consegue se reerguer do rompimento com Sabina e Freud, a sua paralisação não o enfraquece, como no filme de Faenza, mas mostra as imensuráveis dimensões de um homem que tentou sobretudo entender a riqueza da alma humana e da vida. 

Os diálogos? Brilhantes. Mas eles o são justamente pelo que expõem dos seus interlocutores. A ênfase na correspondência dos três remete a como suas relações se construíram num tempo muito diferente das mensagens instantâneas atuais. As interpretações intensas e sóbrias de Fassbender (suspiro suspiro), Viggo Mortensen (um alívio da caricatura usual) e Keira Knightley (espantosa) ajudam a tecer as relações que Cronenberg expõe. Eu me surpreendia a cada minuto de projeção, e a surpresa foi boa e gratificante. 

E a ficção conta a história mais uma vez.

Antes das sombras, três filmes divertidos fizeram parte do meu março. Guerra é Guerra (This Means War. Timothy Downling, US, 2012) eu queria ver pelos trailers... mais uma contradição, porque, como as melhores cenas estão nele, muito do filme se perde. Mas eu me diverti demais, principalmente porque os dois em guerra são dois hummmms fofos. Mas o trailer podia, sim, ter sido mais discreto, rs. 

Em O Lorax: Em busca da Trúfula perdida (Dr. Seuss The Lorax. Chris Renauld, Kyle Balda. US, 2012), a minha maior diversão foi meu sobrinho de três anos rindo alto durante o filme. Ah, e as árvores de algodão doce, muito lindas. De resto, mesmo sendo a adaptação de uma história do Dr. Seuss, o filme, dos mesmos realizadores do meu querido Despicable Me, não me cativou tanto. 

John Carter - Entre dois mundos (John Carter. Andrew Stanton, US, 2012) me surpreendeu e divertiu, além de chamar a atenção para os livros, do mesmo autor de Tarzan, Edgar Rice Burroughs. Não sei como ocorre na escrita, mas gostaria que a volta de Jonh à Terra e sua busca por uma oportunidade de voltar a Marte fosse um filme completo.

Novamente deixei muitos filmes para citar no mesmo post... não gosto de fazê-lo porque muito se perde na quantidade de comentários. Hoje - ontem, aliás - foi um foi um dia cansativo, meu sono está atrasado... e aí muti do que as histórias me contaram se perde em uma escrita superficial. Mas preferi trazê-los dessa forma mesmo. Afinal, a conversa pode continuar nos comentários, certo?

E Feliz Páscoa  para todos!!!

Reservoir Eggs!!!


PS: No começo deste post, eu o escrevi ao som de Band of Horses, uma das minhas bandas favoritas hoje e que conheci, para variar, em uma cena. No caso, no seriado de TV Fringe. Ouvi a música - There is a Ghost -, coloquei-a como toque no celular e fui atrás dos outros CD's. Assim, descobri outras musicas que amo hoje. Uma delas é a que aparece em citação no início - The Funeral. Ela também foi o encerramento de uma outra série, FlashForward, que começou bacana, mas não vingou. 

Band of Horses foi uma das bandas a tocar hoje no Lollapalooza sem São Paulo. Todo mundo morrendo pelo Foo Fighters e eu, sempre na contramão, quase tive um treco quando, nesta semana ainda, vi que ia perder o show de Band of Horses. Ao procurar no youtube, encontrei todo o show deles hoje, uma delícia. A última música do set list foi justamente The Funeral:





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